MAGÔ TONHON, voluntária na produção da conferência

“Eu tenho certeza que haverá uma próxima conferência porque, na verdade, ela já existe. Ao menos virtualmente. E tudo o que existe na matéria um dia foi sonhado. Então é importante idealizar também. Eu falo de um lugar muito específico que é o de uma pessoa que ajudou, contribuiu, colaborou, para produzir essa conferência. É muito importante o exemplo de onde eu falo para, inclusive, justificar minha própria fala. Toda vez que que alguém nos diz algo, essa pessoa está esperando ser ouvida. E a gente tem uma mania muito problemática que é sempre esperar o nosso momento de falar só para falar depois. Essa conferência, a meu ver, aponta para um público com características de multiplicidade, inclusive cultural, e absurdamente diverso. E, sobretudo, pessoas carentes de um lugar de fala, carentes de microfone mesmo. Eu vi muitos relatos pessoais, por exemplo. O que demonstra como essas pessoas têm essa carência. A fala das pessoas é muito importante, mas a gente precisa aprender um pouco a ouvir mais – e, sobretudo, a compreender. E se não compreender, não achar que já compreendeu. Pergunte novamente. A gente tende a idealizar as coisas, mas na prática tudo pode mudar. As dinâmicas mais orgânicas acabam sendo absorvidas e algumas práticas acabam mudando. O que eu sonho para a próxima conferência é que até lá – nós temos um ano –, nós possamos pensar, e repensar continuamente, a respeito da importância da escuta atenta. Porque se, enquanto você fala, eu apenas estiver esperando o meu momento de falar, eu não estou ouvindo o que você falou. Isso foi muito rico na fala de todas as pessoas, porque o discurso e a narrativa foram sendo permeados organicamente pelas respostas. O que eu levo comigo é, sobretudo, o exercício de ouvir. Cito aqui uma coisa que minha avó dizia muito, que era assim: não é à toa que a gente tem dois ouvidos e uma boca, então ouça mais e fale menos. E eu sei que isso é muito difícil, principalmente quando a gente está num lugar onde as pessoas estão justamente querendo nos ouvir, vindos de uma realidade onde a gente não tem voz, onde nossas demandas não são respeitadas, onde lidamos cotidianamente com pessoas que não nos entendem, que partem sempre de um pressuposto do que é certo e do que é errado”

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