“O que mais me marcou aqui foi a ver a possibilidade de que nós nos vejamos realmente como uma comunidade. Claro que é importante termos em mente a questão dos marcadores sociais, mas esses não devem nos separar, mas sim criarem empatia, para que possamos lutar juntos pelos nossos direitos. E dentro disso, acho importante falar sobre a importância de valorizar os aliados. Digo isso, porque algumas discussões que vi aqui me fizeram lembrar de uma vez em que, numa discussão com uma pessoa que tinha uma opinião contrária que a minha, eu me enervei tanto que cheguei a cuspir cerveja no tênis do cara – ao invés de continuar mantendo a didática. Claro que tem vezes que não dá, mas eu fiquei pensando em como, na verdade, o melhor caminho é continuar mantendo a paciência para prosseguir com o discurso. Outro ponto foi conseguir ver a representatividade da não binaridade aqui. O que foi muito legal, porque eu tinha uma certa noção de que as pessoas não binárias estavam se colocando no mesmo patamar de transfobia, e são preconceitos diferentes. Eu tinha uma certa empatia por entender que existem certas inquietações parecidas. Foi incrível ver aqui pessoas falando que têm consciência de que a passabilidade cis lhes dá privilégios, sem que isso as deixasse acuadas. Elas podem usar essa autocrítica para se desconstruir mesmo, para terem em conta esse privilégio e lutarem ao lado outras das outras. Isso me deu até uma certa esperança de que a gente possa vir a criar uma mitologia brasileira para a não binaridade. Eu não sei como isso pode ser feito, mas isso me deixa com uma certa inspiração para ter ideias com relação a isso. A única coisa que me incomodou foi a invisibilidade da bissexualidade – eu não senti que foi muito bem representada. Mas não é uma crítica destrutiva, é uma sugestão para que isso aconteça da próxima vez. Porque são pessoas que não se sentem muito conformes nem entre gays nem entre lésbicas, mas também nem entre os héteros, por conta de um certo preconceito contra o que seria uma ‘sexualidade indecisa’. Outra coisa foi o que o Buck falou sobre a questão do sexo como algo empoderador e libertador também. Isso é algo que eu ainda estou digerindo, mas que vou levar para fora daqui”