“Essa experiência me mudou muito. Eu ouvi muito – até por fazer o som também, preciso estar atenta a tudo. Cheguei aqui com muitas confusões a respeito de nomenclaturas, leis, com muita curiosidade sobre esse mundo no qual eu nunca tinha entrado, do qual nunca tinha participado. E essa conferência me mostrou como as pessoas têm ainda uma dificuldade muito primordial, que é a de serem reconhecidas como seres humanos. Eu nem dormi direito durante essa semana, porque tive sonhos com essas questões, de tanto que isso mexeu com meu subconsciente de uma forma tão forte, tão violenta, que se transformou em sonhos com imagens muito fortes. Eu sou uma mulher cis, branca, nunca tive nenhuma relação homossexual, mas percebi que dentro de mim existe a vontade de experienciar o masculino, experimentar o que é ficar no lugar de uma pessoa de outro sexo, porque isso é o ser humano. Eu não quero ofender ninguém, mas as pessoas que são hétero, todo mundo, têm isso dentro de si. Lá no subconsciente, lá no fundo, a gente na verdade tem tudo isso dentro de nós mesmos. Foi com os meus sonhos que eu percebi o quanto isso é forte em mim. E o que é mágico desse espaço é a gente poder se tratar como pessoas e não como títulos – homem, mulher ou o que seja. Nós somos pessoas. Eu disse que entrei confusa, mas estou saindo mais confusa ainda, estou com uma confusão de identidade violenta, e isso é maravilhoso”